segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Tendência Progressista



FONTES: Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos conteúdos. José Carlos Libâneo. Edições Loyola.
História da Educação. Paulo Ghiraldelli Jr. Editora Cortez.
Tendência Progressista
O temo empregado por Snyders (George Snyders) é usado aqui para designar tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.  Evidentemente, a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista.
A pedagogia progressista tem-se manifestado em três tendências: a Libertadora (mais conhecida como Pedagogia de Paulo Freire), Libertária (que reúne defensores da autogestão pedagógica) e a Crítico-social dos conteúdos (que diferencia das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais).
As versões Libertadora e Libertária têm em comum o antiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como base da relação educativa e a ideia da autogestão pedagógica. Em função disso, dão mais valor ao processo de aprendizagem grupal (a participação em discussões, assembléias, votações) do que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática educativa somente faz sentido numa prática social junto ao povo, razão pela qual preferem as modalidades de educação popular “não–formal”.
A tendência crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora da pedagogia tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre transmissão dos conteúdos e assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado.
Pedagogia
Progressista

CONTEÚDOS
MÉTODOS
RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO
Libertadora

Papel da escola – Não é próprio da Pedagogia Libertadora falar de ensino escolar, já que sua marca é a atuação “não-formal”. Entretanto, professores e educadores engajados no ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa pedagogia. Assim, quando se fala na educação em geral, diz-se que ela é uma atividade na qual professores e alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa mesma realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de transformação social. Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” – que visa apenas depositar informações sobre o aluno - , quanto a educação renovada – que pretendia uma libertação psicológica individual – são domesticadoras, pois em nada contribuem para desvelar a realidade social da opressão. A educação libertadora, ao contrário, questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e cm os outros homens, visando a uma transformação – daí ser uma educação crítica.

A pedagogia libertadora surge entre os movimentos de educação popular.
Nasceu da conformação superestrutural da época. Teoricamente foi forjada por três ideários muito presentes no início dos anos 60. De um lado o nacionalismo-desenvolvimentista, cuja ideologia permeou o período. De outro, o novo pensamento social da esquerda católica (solidarismo cristão). Por fim, a vertente propriamente pedagógica, o escolanovismo, que praticamente dominou a intelectualidade liberal no final dos anos 50. Os escritos de Paulo Freire dos anos 50 e 60 serviram de alicerce para a construção da Pedagogia Libertadora, Tal concepção afirmava ter o homem vocação para “sujeito da história”, e não para objeto, mas que no caso brasileiro esta vocação não se explicitava, pois o povo teria sido vítima do autoritarismo e do paternalismo correspondente à sociedade herdeira de uma tradição colonial e escravista.
“A Pedagogia deveria, então, forjar uma nova mentalidade, trabalhar para a conscientização do homem” brasileiro frente aos problemas nacionais e engajá-lo na luta política.
Todo ato educativo é um ato político.
O educador “humanista revolucionário”, “ombreando com os oprimidos”, deveria colocar sua ação político-pedagógica a serviço da transformação da sociedade e da criação do “homem novo”.
A Pedagogia Libertadora buscava uma educação comprometida com os problemas da comunidade, o local onde se efetivava a vida do povo. A comunidade permaneceu, então, como ponto de partida e ponto de chegada. Daí as teses do ensino regionalizado, comunitário, ligado aos costumes e à cultura do local de vida da população a ser educada.
Conteúdos extraídos da realidade – extraídos da problematização da prática de vida dos educandos.
Os conteúdos tradicionais são recusados porque cada pessoa, cada grupo envolvidos na ação pedagógica dispõem em si próprios, ainda que de forma rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte.
O importante não é a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma da relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos estruturados a partir de fora é considerada como “invasão cultural” ou “depósito de informação”, porque não emerge do saber popular. Se forem necessários textos de leitura, estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos com a orientação do educador.
Temas geradores
Conteúdo emergente do saber popular
Importante é a relação conteúdo com a experiência vivida.
Vivência em conjunto com os educandos tomando contato com a sua vida comunitária.
Temas geradores – através do diálogo, humilde e horizontal. Resgatando temas geradores, previamente sentidos em dias anteriores, quando da integração do educador-educando na comunidade.
Problematização – O que implica a idéia de que ninguém educa ninguém e também ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam “em comunhão”, mediatizados pelo mundo.
A educação problematizadora seria aquela capaz de proporcionar aos educandos o desenvolvimento do poder de captação e da compreensão do mundo, das relações dos homens com o mundo, da realidade mutável e transformável pelos homens.
Conscientização – O pensar crítico, o pensar capaz de procurar a causalidade profunda dos acontecimentos. O pensar crítico capas de promover num primeiro momento a conscientização, se resumiria num processo de “desvelamento da realidade”.
Ação social – A educação como conscientização seria, assim “práxis social” de liberação de todos os homens da opressão. Ação social transformadora.
Educador-educando – Aquele que convive e aprende a vida e os problemas da comunidade do educando-educador. Não existe aquele que sabe tudo, e ensina, e aquele que nada sabe, e é ensinado.
Libertária
Papel da escola – Espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. A idéia básica é introduzir modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos que, em seguida, vão contaminando todo o sistema. A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembléias, conselhos, eleições, reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições externas, leve para lá tudo o que aprendeu.
Há, portanto, um sentido expressamente político. Representantes: Freinet, Miguel Gonzáles Arroyo entre outros. A pedagogia libertária está associada às primeiras organizações do proletariado urbano no Brasil. Desenvolveu-se no sentido da transformação sócio-econômica vigente, procurando moldar o ensino para a construção de um novo homem e de uma nova sociedade. Para o pensamento libertário, a tríade capitalismo, Estado e Igreja representava a velha sociedade que deveria sucumbir para das lugar à sociedade anarquista-comunista, sem divisão de classes, sem hierarquia burocratizada, sem centralização do poder
As matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não são exigidas. Importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo, suas necessidades e interesses manifestos através de uma participação crítica.
Conhecimento aqui não é a investigação cognitiva do real, para extrair dele um sistema de representações mentais, mas a descoberta de respostas às necessidades e às exigências da vida social.
Os métodos de aprendizagem são buscados e encontrados graças a iniciativa própria e sem qualquer forma de poder.
É na vivência grupal, na forma de autogestão, que os alunos buscarão encontrar as bases mais satisfatórias de sua própria “instituição”, graças a sua própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de colocar nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, as atividades e a organização do trabalho no interior da escola.
Somente o vivido, o experimentado é incorporado e utilizável em situações novas.Assim, o critério de relevância do saber sistematizado é seu possível uso prático. Por isso mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo. A motivação está no interesse em crescer dentro da vivência grupal., pois supõe-se que o grupo devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas aspirações e necessidades.
Afirma o indivíduo como produto social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo.
Os alunos têm liberdade para trabalhar.
O professor é um orientador e um catalizador. Ele se mistura ao grupo para uma reflexão comum. Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido bastante claro: se um aluno resolve não participar, o faz porque não se sente integrado, mas o grupo tem responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão; quando o professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um significado educativo que por, por exemplo, ser uma ajuda para que o grupo assuma a resposta ou a situação criada.
Crítico-social dos conteúdos
Papel da escola – A difusão de conteúdos é sua tarefa primordial. Mas conteúdos vivos, concretos e, portanto, indissociáveis das realidades sociais. Valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la democrática. Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função da pedagogia “dos conteúdos” é dar um passo à frente no papel transformador da escola, mas a partir das condições existentes. A condição para que a escola sirva aos interesses.
Não constitui um corpo homogêneo de autores e idéias. “É mais correto dizer que os teóricos críticos estão unidos em seus objetivos: fortalecer aqueles sem poder e transformar desigualdades e injustiças sociais existentes”. (MCLAREN, 1997: 192) Embora vinculada à obra de educadores ingleses e americanos, a Pedagogia Crítica é fortemente influenciada pela Pedagogia Libertadora de Paulo Freire.
São conteúdos culturais, universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente reavaliados em face das realidades sociais.  Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, a sua significação humana e social.
Essa maneira de conceber conteúdos do saber não estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular, ou espontâneo, mas uma relação de continuidade em que, progressivamente, se passa da experiência imediata e desorganizada ao conhecimento sistematizado. Não que a 1ª apreensão da realidade seja errada, mas é necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior, conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção do professor.
Se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber, e de um saber vinculado às realidades sociais, é preciso que os metidos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social).
O método relaciona a prática vivida com os conteúdos propostos, momento em que se dará a “ruptura” em relação à experiência pouco elaborada. Tal ruptura é apenas possível com a introdução explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a serem aplicados criticamente à prática do aluno. Em outras palavras, uma aula começa pela constatação da prática do real, havendo em seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. Vai-se da ação à compreensão e da compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa senão a unidade entre teoria e prática.
Enfatiza o papel transformador que o professor pode cumprir enquanto intelectual. Isto pressupõe não apenas que os professores se engajem, mas que atuem em todos os espaços possíveis.
A Pedagogia Crítica parte da realidade dos educandos e toma os seus problemas e necessidades como ponto de partida. Os educadores críticos salientam “que qualquer prática pedagógica verdadeira exige um compromisso com a transformação social, em solidariedade com grupos subordinados e marginalizados. Isto transmite, necessariamente, uma opção preferencial pelo pobre e pela eliminação das condições que geram sofrimento humano”. (MCLAREN: 1997: 194).
MCLAREN, Peter. (1997) A Vida nas Escolas: Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artes Médicas
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