FONTES: Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos
conteúdos. José Carlos Libâneo. Edições Loyola.
História da Educação. Paulo Ghiraldelli Jr. Editora Cortez.
Tendência Progressista
O temo empregado por Snyders (George
Snyders) é usado aqui para designar tendências que, partindo de uma análise
crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades
sociopolíticas da educação. Evidentemente,
a pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade capitalista.
A pedagogia progressista tem-se
manifestado em três tendências: a Libertadora (mais conhecida como Pedagogia de
Paulo Freire), Libertária (que reúne defensores da autogestão pedagógica) e a
Crítico-social dos conteúdos (que diferencia das anteriores, acentua a primazia
dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais).
As versões Libertadora e Libertária têm
em comum o antiautoritarismo, a valorização da experiência vivida como base da
relação educativa e a ideia da autogestão pedagógica. Em função disso, dão mais
valor ao processo de aprendizagem grupal (a participação em discussões,
assembléias, votações) do que aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a
prática educativa somente faz sentido numa prática social junto ao povo, razão
pela qual preferem as modalidades de educação popular “não–formal”.
A tendência crítico-social dos conteúdos
propõe uma síntese superadora da pedagogia tradicional e renovada, valorizando
a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola
como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre
transmissão dos conteúdos e assimilação ativa por parte de um aluno concreto
(inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber
criticamente reelaborado.
Pedagogia
Progressista
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CONTEÚDOS
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MÉTODOS
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RELAÇÃO
PROFESSOR E ALUNO
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Libertadora
Papel
da escola – Não é próprio da Pedagogia Libertadora falar de ensino escolar,
já que sua marca é a atuação “não-formal”. Entretanto, professores e
educadores engajados no ensino escolar vêm adotando pressupostos dessa
pedagogia. Assim, quando se fala na educação em geral, diz-se que ela é uma
atividade na qual professores e alunos, mediatizados pela realidade que
apreendem e da qual extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem um nível de
consciência dessa mesma realidade, a fim de nela atuarem, num sentido de
transformação social. Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” –
que visa apenas depositar informações sobre o aluno - , quanto a educação
renovada – que pretendia uma libertação psicológica individual – são
domesticadoras, pois em nada contribuem para desvelar a realidade social da
opressão. A educação libertadora, ao contrário, questiona concretamente a
realidade das relações do homem com a natureza e cm os outros homens, visando
a uma transformação – daí ser uma educação crítica.
A
pedagogia libertadora surge entre os movimentos de educação popular.
Nasceu
da conformação superestrutural da época. Teoricamente foi forjada por três
ideários muito presentes no início dos anos 60. De um lado o nacionalismo-desenvolvimentista,
cuja ideologia permeou o período. De outro, o novo pensamento social da
esquerda católica (solidarismo cristão). Por fim, a vertente propriamente
pedagógica, o escolanovismo, que praticamente dominou a intelectualidade
liberal no final dos anos 50. Os escritos de Paulo Freire dos anos 50 e 60
serviram de alicerce para a construção da Pedagogia Libertadora, Tal
concepção afirmava ter o homem vocação para “sujeito da história”, e não para
objeto, mas que no caso brasileiro esta vocação não se explicitava, pois o
povo teria sido vítima do autoritarismo e do paternalismo correspondente à
sociedade herdeira de uma tradição colonial e escravista.
“A
Pedagogia deveria, então, forjar uma nova mentalidade, trabalhar para a
conscientização do homem” brasileiro frente aos problemas nacionais e
engajá-lo na luta política.
Todo
ato educativo é um ato político.
O
educador “humanista revolucionário”, “ombreando com os oprimidos”, deveria
colocar sua ação político-pedagógica a serviço da transformação da sociedade
e da criação do “homem novo”.
A
Pedagogia Libertadora buscava uma educação comprometida com os problemas da
comunidade, o local onde se efetivava a vida do povo. A comunidade
permaneceu, então, como ponto de partida e ponto de chegada. Daí as teses do
ensino regionalizado, comunitário, ligado aos costumes e à cultura do local
de vida da população a ser educada.
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Conteúdos
extraídos da realidade – extraídos da problematização da prática de vida dos
educandos.
Os
conteúdos tradicionais são recusados porque cada pessoa, cada grupo
envolvidos na ação pedagógica dispõem em si próprios, ainda que de forma
rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se parte.
O
importante não é a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma
nova forma da relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos
estruturados a partir de fora é considerada como “invasão cultural” ou
“depósito de informação”, porque não emerge do saber popular. Se forem
necessários textos de leitura, estes deverão ser redigidos pelos próprios
educandos com a orientação do educador.
Temas
geradores
Conteúdo
emergente do saber popular
Importante
é a relação conteúdo com a experiência vivida.
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Vivência
em conjunto com os educandos tomando contato com a sua vida comunitária.
Temas
geradores – através do diálogo, humilde e horizontal. Resgatando temas
geradores, previamente sentidos em dias anteriores, quando da integração do
educador-educando na comunidade.
Problematização
– O que implica a idéia de que ninguém educa ninguém e também ninguém se
educa a si mesmo; os homens se educam “em comunhão”, mediatizados pelo mundo.
A
educação problematizadora seria aquela capaz de proporcionar aos educandos o
desenvolvimento do poder de captação e da compreensão do mundo, das relações
dos homens com o mundo, da realidade mutável e transformável pelos homens.
Conscientização
– O pensar crítico, o pensar capaz de procurar a causalidade profunda dos
acontecimentos. O pensar crítico capas de promover num primeiro momento a
conscientização, se resumiria num processo de “desvelamento da realidade”.
Ação
social – A educação como conscientização seria, assim “práxis social” de
liberação de todos os homens da opressão. Ação social transformadora.
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Educador-educando – Aquele
que convive e aprende a vida e os problemas da comunidade do
educando-educador. Não existe aquele que sabe tudo, e ensina, e aquele que
nada sabe, e é ensinado.
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Libertária
Papel
da escola – Espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos
alunos num sentido libertário e autogestionário. A idéia básica é introduzir
modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos que, em seguida,
vão contaminando todo o sistema. A escola instituirá, com base na participação
grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembléias, conselhos,
eleições, reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez
atuando nas instituições externas, leve para lá tudo o que aprendeu.
Há,
portanto, um sentido expressamente político. Representantes: Freinet, Miguel
Gonzáles Arroyo entre outros. A pedagogia libertária está associada às
primeiras organizações do proletariado urbano no Brasil. Desenvolveu-se no
sentido da transformação sócio-econômica vigente, procurando moldar o ensino
para a construção de um novo homem e de uma nova sociedade. Para o pensamento
libertário, a tríade capitalismo, Estado e Igreja representava a velha
sociedade que deveria sucumbir para das lugar à sociedade
anarquista-comunista, sem divisão de classes, sem hierarquia burocratizada,
sem centralização do poder
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As
matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não são exigidas.
Importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo,
suas necessidades e interesses manifestos através de uma participação
crítica.
Conhecimento
aqui não é a investigação cognitiva do real, para extrair dele um sistema de
representações mentais, mas a descoberta de respostas às necessidades e às
exigências da vida social.
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Os
métodos de aprendizagem são buscados e encontrados graças a iniciativa
própria e sem qualquer forma de poder.
É
na vivência grupal, na forma de autogestão, que os alunos buscarão encontrar
as bases mais satisfatórias de sua própria “instituição”, graças a sua
própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de colocar nas
mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, as atividades e
a organização do trabalho no interior da escola.
Somente
o vivido, o experimentado é incorporado e utilizável em situações novas.Assim,
o critério de relevância do saber sistematizado é seu possível uso prático.
Por isso mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da
aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo. A motivação está no interesse
em crescer dentro da vivência grupal., pois supõe-se que o grupo devolva a
cada um de seus membros a satisfação de suas aspirações e necessidades.
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Afirma o indivíduo como
produto social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no
coletivo.
Os alunos têm liberdade para
trabalhar.
O professor é um orientador
e um catalizador. Ele se mistura ao grupo para uma reflexão comum.
Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido bastante claro: se um
aluno resolve não participar, o faz porque não se sente integrado, mas o grupo
tem responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão; quando o
professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um significado
educativo que por, por exemplo, ser uma ajuda para que o grupo assuma a
resposta ou a situação criada.
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Crítico-social dos conteúdos
Papel
da escola – A difusão de conteúdos é sua tarefa primordial. Mas conteúdos
vivos, concretos e, portanto, indissociáveis das realidades sociais.
Valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço
que se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode
contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la democrática. Se a
escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no
rumo da transformação da sociedade Se o que define uma pedagogia crítica é a
consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função da pedagogia
“dos conteúdos” é dar um passo à frente no papel transformador da escola, mas
a partir das condições existentes. A condição para que a escola sirva aos
interesses.
Não
constitui um corpo homogêneo de autores e idéias. “É mais correto dizer que
os teóricos críticos estão unidos em seus objetivos: fortalecer
aqueles sem poder e transformar desigualdades e injustiças sociais
existentes”. (MCLAREN, 1997: 192) Embora vinculada à obra de educadores
ingleses e americanos, a Pedagogia Crítica é fortemente influenciada
pela Pedagogia Libertadora de Paulo Freire.
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São
conteúdos culturais, universais que se constituíram em domínios de
conhecimento relativamente autônomos, incorporados pela humanidade, mas permanentemente
reavaliados em face das realidades sociais.
Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem
ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, a sua significação
humana e social.
Essa
maneira de conceber conteúdos do saber não estabelece oposição entre cultura
erudita e cultura popular, ou espontâneo, mas uma relação de continuidade em
que, progressivamente, se passa da experiência imediata e desorganizada ao
conhecimento sistematizado. Não que a 1ª apreensão da realidade seja errada,
mas é necessária a ascensão a uma forma de elaboração superior, conseguida
pelo próprio aluno, com a intervenção do professor.
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Se
o objetivo é privilegiar a aquisição do saber, e de um saber vinculado às
realidades sociais, é preciso que os metidos favoreçam a correspondência dos
conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos
conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social).
O
método relaciona a prática vivida com os conteúdos propostos, momento em que
se dará a “ruptura” em relação à experiência pouco elaborada. Tal ruptura é
apenas possível com a introdução explícita, pelo professor, dos elementos
novos de análise a serem aplicados criticamente à prática do aluno. Em outras
palavras, uma aula começa pela constatação da prática do real, havendo em
seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do
conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a
explicação do professor. Vai-se da ação à compreensão e da compreensão à
ação, até a síntese, o que não é outra coisa senão a unidade entre teoria e
prática.
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Enfatiza
o papel transformador que o professor pode cumprir enquanto intelectual. Isto
pressupõe não apenas que os professores se engajem, mas que atuem em todos os
espaços possíveis.
A
Pedagogia Crítica parte da realidade dos educandos e toma os seus
problemas e necessidades como ponto de partida. Os educadores críticos
salientam “que qualquer prática pedagógica verdadeira exige um compromisso
com a transformação social, em solidariedade com grupos subordinados e
marginalizados. Isto transmite, necessariamente, uma opção preferencial pelo
pobre e pela eliminação das condições que geram sofrimento humano”. (MCLAREN:
1997: 194).
MCLAREN, Peter. (1997) A
Vida nas Escolas: Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da
educação. Porto Alegre: Artes Médicas
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